Me peguei pensando ontem à noite, antes de dormir, naquela pergunta clássica que habitava os questionários da nossa infância e adolescência, mas que se presta até a entrevistas de emprego: quem você levaria para uma ilha deserta?
Uma ilha deserta sempre me pareceu um lugar entediante, mas provocador. Talvez porque eu não saiba nadar no mar, nem curta ficar torrando no sol. Mas a minha ilha deserta imaginária teria cachoeiras, um morro fácil de subir e onde poderia ver o pôr do sol, brisa e um abrigo onde eu pudesse passar a noite.
Não teríamos o que comprar, nem distrações como ir ao shopping ou ao cinema. Não teria praça de alimentação para frequentar. Sem telefone, internet, livros, correio ou jornal. Com relógio, mas sem fuso.
Ao mesmo tempo, todas as refeições dependeriam da minha habilidade de plantar, colher, pescar e caçar. Nada seria de mão beijada. Tudo teria sabor de conquista. Dinheiro não teria valor e só o companheirismo e solidariedade seriam a moeda circulante.
Quem você levaria?
Eu queria levar muita gente para essa ilha. A cada fase da vida essa lista de alternava. Hoje, com certeza, meu namorado/marido, meus pais, minha avó, meus irmãos, cunhados, as famílias de cada um deles, sócias, amigas e suas famílias, e mais um monte de gente que está sempre em volta dando suporte. Todos estariam nesse cruzeiro rumo à ilha deserta que iríamos colonizar.
Eis que, na semana passada, sem que ninguém perguntasse, me vi no meio dessa ilha. Não teve voo, viagem de carro ou barco. Apenas entrei em casa para não sair. Pelo menos pelas próximas semanas. Me dei conta, então, de que estou nessa ilha com todas as pessoas com quem queria estar. Alguns estão em partes mais afastadas e, de longe, nos vemos e conversamos. Outros estão próximos, dividem as tarefas e as refeições. Mas mesmo distantes, todos, de algum modo, estão em mim, no meu coração, orações e pensamentos.
Em breve poderemos sair dessa ilha, mas nesse momento é importante ficarmos nela. Vamos descobrir o que ela tem de bom. Estamos com quem estamos para nos redescobrirmos, para reinventarmos nossas relações, para sermos família no sentido mais puro da palavra.
Que a gente possa aproveitar a ilha, seus ensinamentos, suas experiências. Vamos nos transformar. Sermos mais solidários, leais, cúmplices e comprometidos com a nossa parcela de responsabilidade. Tomara que, quando voltarmos ao continente e às vidas que deixamos do lado de fora da porta, tenhamos aprendido a mais importante das lições: a ilha não estará deserta se estivermos verdadeiramente lá com cada um que escolhemos.
Esteja lá.